Professores e novas tecnologias

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O professor Daniel Ribeiro Mill, da UFSCar, é doutor em Educação e autor do livro Docência virtual: uma visão crítica, entre outras obras.

Na entrevista abaixo, ele adverte que o professor deve tomar cuidado com o teletrabalho e precisa conhecer a maioria das tecnologias digitais para saber quais seriam benéficas ao seu trabalho.

O senhor fala que a atualidade, com um novo padrão tecnológico, criou um “novo perfil de cidadão”. No caso dos professores, eles já são cidadãos novos, conhecedores das novas tecnologias?

Daniel Mill – É bom reforçar que tecnologia é qualquer coisa inventada pelo ser humano, para o ser humano. As TDIC (Tecnologias digitais da informação e comunicação) trouxeram um redimensionamento espaçotemporal, que criou uma nova sociedade e, consequentemente, um novo cidadão. Na realidade atual, o professor precisa ser novo. Vale para ele o que vale para o cidadão: o conceito de lifelong learning. Como a educação é um espaço privilegiado, esta aprendizagem contínua fica mais clara.

 

Como o professor reage ao novo? As novas tecnologias são difíceis de aceitar?

Daniel Mill – Tudo que é novo incomoda, gera desestruturação. Primeiro, para qualquer pessoa, causa um estranhamento, uma retração. Em seguida, no caso do professor, desperta o raciocínio: Isso não é como quero, o que fazer? O ponto chave é que quase nenhum docente percebe que faz essa adaptação para usar novas tecnologias a vida toda. Nenhuma tecnologia é neutra e nenhuma é maquiavélica por si só. Isso depende de quem a usa, incorpora. O melhor caminho é daquele que consegue entender as novidades e que vai usar as que melhor lhe servirem. Mas ele precisa conhecer a maioria para ter opção. Para muitos, a reação é o medo: de ser substituído na função ou de não ser remunerado pelo trabalho extra. Existem dois grupos que aponto, conforme a relação com as TDIC: Os migrantes digitais, com mais de 25 anos; e os nativos digitais, que têm até essa idade. Os migrantes sabem que nem sempre as tecnologias são benéficas. Elas dependerão do uso. A pólvora é celebrada no uso em fogos de artifício, mas criticada na alimentação de armas de guerra. Sempre é preciso analisar o que se faz com a ‘coisa’.

 

O que os professores devem esperar dos sindicatos, enquanto organização coletiva de trabalhadores, frente à intensificação do trabalho?

Daniel Mill – O trabalhador deve cobrar mais e ser proativo, mostrando interesse na defesa dos direitos de quem trabalha. Ele precisa entender que o coletivo somos nós. Um sindicato é só o órgão que reúne. Eu preciso me ver como parte da coisa. Infelizmente, o discurso individualista dos últimos anos criou trabalhadores que esperam pouco ou esperam mágica de um sindicato. Para enfrentar problemas como a intensificação, cada sindicato precisa entender muito bem o processo do trabalho e as funções que cada um tem. O ensino presencial mudou nos últimos anos, assim como a EaD, por exemplo. No caso da EaD, ela não é boa ou ruim, assim como outras tecnologias, depende do seu uso.

 

O que significa a regulamentação do Artigo 6º da CLT na luta pela remuneração do trabalho docente e em melhorias nas condições de trabalho?

Daniel Mill – A vantagem da mudança é que formaliza o que estava ao ‘Deus dará’ e, assim, ganhava quem tinha mais força, ou seja, o capital. Mas o teletrabalho, como eu chamo esse assunto, é perigoso e perverso. É preciso tomar cuidado para o próprio trabalhador não se cobrar mais enquanto está fora da empresa. Tem situações em que ele vira gestor: ‘leva trabalho pra casa’ e não tem mais local nem horário de trabalho.

 

Publicado em: Revista da Federação dos Professores de São Paulo – FEPESP

Foto: Jesus Carlos

 

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