Todos brindaram a chegada de setembro como aquele mês que floreia a vida, dá cor e anima. Mas setembro trouxe complicações para os moradores do Vale do Itajaí. Forte cheias assolaram mais de 91 municípios catarinenses, dentre elas, Brusque e Itajaí.
As enchentes no Vale do Itajaí, advindas da alta das águas dos rios Itajaí Açú e Itajaí Mirim, chegou novamente nas casas de trabalhadores e trabalhadoras, principalmente moradores das regiões mais baixas da cidade.
Em 2008, o rio que corre sobre as pedras também não agüentou. Transbordou. Efervesceu. Ocupou as terras, demasiadamente usadas de forma irregular. Passados três anos, chuva demais e vontade política de menos, ajudaram a fazer o rio urrar de novo, galgando por espaço. Novamente os moradores se viram entre o pânico em ver a água subir e atingir pertences e a ajuda-mutua. O medo das águas serem ainda mais altas e correr o risco de ficar sem mantimentos também trouxeram novos momentos de intranqüilidade para cerca de 4 mil atingidos só em Itajaí.
Em Brusque, os problemas foram ainda piores. Considerada a pior enchente dos últimos 20 anos, água e terra misturaram-se a fogões, camas, geladeiras e as gentes tiveram que se esconder, se abrigar, esperar a fúria das águas baixar. Mas não se há de culpabilizar o rio, como escreveu Berthold Brecht, dramaturgo e poeta do sul da Alemanha: “Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem”. A vontade política tb deixou a desejar
De acordo com o pesquisador e professor no Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar da Univali, Sergey Alex de Araújo, quando se fala em enchente, alagamentos, deslizamentos, enchurradas, o primeiro enfoque é o reconhecimento da fisiografia local. “O município de Itajaí possui uma morfologia que propicia esses sinistros. Boa parte do sítio urbano de Itajaí está sobre sedimentos dos rios Itajaí-Mirim e Itajaí-Açu com suas planícies de inundação de um lado e os morros do outro e seu histórico de chuvas intensas” explica o pesquisador.
Professor Sergey Alex de Araújo. Fotos: Felipe Trojan e Patrícia Auth
O professor Sergey explica ainda que a história demonstra de forma clara que a sociedade de Itajaí e região deverão conviver com esses tipos de desastres em maior ou menor grau em tempos distintos.
O pesquisador, que também é responsável pelo Laboratório de Climatologia da Univali, destaca ainda que a palavra chave é a prevenção.” São necessários investimentos em obras de infraestrutura (micro e macro drenagem, molhes, dragagens, etc.), adequação e efetivação do plano diretor do município, aperfeiçoamento e contínuo investimento no sistema de monitoramento e alerta de desastres, políticas de educação e treinamento para essas ocorrências entre outras atitudes. Devemos entender que esses sinistros não são responsabilidade só do poder público, todos nós devemos fazer parte da solução” finaliza Sergey.
O Sinpro acredita que, é preciso sim solidariedade e ajuda mútua, mas também é preciso organização e um pouco mais de vontade política para que projetos saiam do papel e possam acontecer de verdade. Para melhorar a vida das pessoas, é preciso começar a cuidar mais da natureza, implementar projetos de habitação fora de áreas de riscos, restringir e limitar as tais licenças ambientais e promover a participação dos moradores e trabalhadores para buscar soluções calcadas na ciência, na tecnologia e no respeito ao ser humano e à natureza.
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