São dezenas de envelopes espalhados sobre a mesa. Letra firme e corrida. A tinta azul no papel amarelado pelo tempo. As cartas de Drummond ainda se acomodam na pasta preta dentro da gaveta da cômoda.
Foram cerca de 60 cartas trocadas durante 24 anos. De um lado, o poeta. Carlos Drummond de Andrade. E do outro lado do, a professora Helena Maria Vicari de 68 anos, moradora da pequena e distante e Guaporé, na Serra Gaúcha. Eles nunca se conheceram. Apenas trocaram cartas. Cartas de amizades, de votos sinceros, de contar agruras e contentamentos.
Dona Helena passou a gostar de Drummond quando ainda fazia magistério. Uma de suas professoras falou nele, fez-lhe até pouco caso. Mas ela insistiu em querer quem era tal poeta já que ela também se arriscava no mundo de fazer poemas. Encontrou seu endereço num almanaque de poesias e escreveu-lhe a primeira carta. O poeta lhe respondeu com um cartão e um autógrafo. A partir daí foram 24 anos de cartas.
Helena casou, teve filhos e a amizade se estendeu aos familiares da poetisa de Guaporé. À cada filho nascido, Drummond dedicou uma pequena prosa, um breve soneto, uma palavra poetisada com afeto e amizade. Até mesmo a pequena Guaporé mereceu versos de Drummond.
Até pouco tempo, nem os seus filhos sabiam da amizade da família Vicari com um dos maiores poetas do Brasil. Mas a última carta, dona Helena não escreveu. Em agosto de 1987, quando faleceu a filha de Drummond, ela achou por bem esperar um pouco antes de escrever-lhe dando seus pêsames. Doze dias depois, o poeta veio a falecer e a última carta desses amigos distantes, nunca foi escrita.
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