É necessário tempo para refletir: O estresse dos docentes — linkados —  nas atividades a distância

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O Sinpro Itajaí e Região reafirma que entendemos a excepcionalidade e a urgência da crise que estamos enfrentando. Somos favoráveis ao isolamento social como medida de saúde pública. Reconhecemos a importância, os significados e as contribuições das tecnologias para o trabalho docente. De qualquer forma, é importante que haja a reflexão do que estamos vivendo, levar em consideração o que estamos presenciando, para que de fato o fazer pedagógico faça sentido.

A suspensão das aulas trouxe um elemento inédito, até mesmo nas escolas mais estruturadas. De uma hora para outra, os recursos passaram a ser usados não mais como atividade conjugada ao ensino presencial, mas para substituí-lo, ainda que em caráter temporário e excepcional.

Gestores, diretores, coordenadores etc. imaginaram que bastaria substituir o meio, transportando mecanicamente o que acontece nas salas de aula presenciais para as plataformas digitais e, a partir daí, usar todas as possibilidades que a tecnologia poderia oferecer.

Fácil?

Preparar uma aula para os meios digitais nos cobra um tempo de aprendizagem inicial — para muitos docentes uma nova metodologia —, levando em conta:

  • horas e horas além do previsto,
  • as leituras,
  • os slides,
  • os recursos de apoio,
  • a linguagem,
  • os exemplos,
  • a dinâmica,
  • o ritmo,
  • a sistematização de conceitos — tudo é diferente.

Tem a aula do agrupamento do infantil, do sexto ano, do oitavo, do primeiro ano do ensino médio, dos mesmos anos em outra escola, conteúdos diferentes.

A coordenação

No meio desse caminho, o coordenador precisa cumprir seu papel e lembrar que:

  • Pessoal, é preciso postar as atividades no Classroom.
  • Já agendaram a aula no Zoom?
  • Mandaram o link para as turmas?
  • O Moodle caiu, não suportou a quantidade de acessos.
  • Não incentivem as reclamações dos alunos,
  • Não vamos criar polêmicas.
  • Disponibilizem seus e-mails pessoais, seus

WhatsApp

A pedido da direção, “apenas para otimizar o trabalho”, foram unilateralmente criados os grupos dos “professores do fundamental 1, do fundamental 2, do infantil, do médio, dos líderes de turmas, da área de Exatas, das Ciências, do segmento de Língua Portuguesa, das reuniões de emergência.

O celular é um inferno de apitos e telas luminosas que não param de piscar:

“Atenção, alunos estão bombando as dúvidas lá no Blackboard, querem saber quando devem entregar os exercícios solicitados.

É preciso responder com prontidão, sem deixar acumular as perguntas”.

As aulas gravadas ou online

Encarar os encontros on-line é outro momento angustiante, desesperador inclusive para quem tem anos ou até mesmo décadas de experiência na carreira e transita com tranquilidade pelas salas de aula.

Tudo, absolutamente tudo, e ao mesmo tempo, tem que ser controlado pelas professoras e professores:

  • a internet que precisa ter bom sinal e não pode cair,
  • as dezenas de imagens que pulam na tela,
  • os áudios dos alunos,
  • as conversas paralelas,
  • o tempo disponibilizado pela plataforma,
  • os chats,
  • os ícones com as mãozinhas levantadas.

Quem consegue manter a serenidade e a linha de raciocínio planejada?

E a coordenação precisa que tudo corra de forma eficiente, para confirmar se entrou pelo link agendado e se deu uma passadinha na nossa aula “só para ajudar no que for preciso”. E, logo em seguida, manda mensagem pelo WhatsApp, lembrando:

  • “Olha, mais atenção, foi muita falação e pouca interatividade.
  • Precisa ser mais dinâmica, dá para melhorar”.

Sem pedir licença, mães e pais de alunas e alunos também resolveram acompanhar as nossas aulas, “só para ver como é que as coisas estão caminhando”. Saímos do computador física e emocionalmente esgotados, como se um caminhão tivesse nos derrubado.

São condições extenuantes de um trabalho “invisível” que foi triplicado após a suspensão das aulas e parece não ter fim. Entretanto, este é apenas um dos problemas.

Há escolas que estão exigindo dos professores aulas gravadas para serem disponibilizadas — acreditem — no YouTube, na conta da escola. E o direito sobre trabalho intelectual? E se algum aluno usar indevidamente a imagem desse professor?

E por que, afinal, o professor precisa se transformar num youtuber? Será que essa opção não atende mais a estratégias de marketing do que a objetivos pedagógicos?

A reflexão

Os estudantes e suas famílias têm reconhecido o esforço dos professores, mas é preciso que eles saibam que esse momento também guarda um outro lado, sombrio e marcado por uma rotina desumana, que denuncia muitas vezes a falta de condições de trabalho.

As histórias que foram contadas aqui são todas reais e muito representativas das dificuldades que os professores estão sendo obrigados a enfrentar. É uma situação nova e excepcional para a qual ainda não existem muitas respostas.

O trabalho em casa faz parte da rotina docente. Quem é professora, quem é professor sabe que as atividades extraclasse despendem muito mais tempo e energia do que a aula em si. Planejamento, projetos, leituras, pesquisas, preparação de aulas, atividades e instrumentos de avaliação são apenas alguns exemplos desse cotidiano.

Não é de hoje que a tecnologia foi incorporada ao trabalho docente. As atividades tornaram-se mais complexas e diversificadas, exigindo uma disponibilidade cada vez maior dos professores, a um custo pessoal muito grande.

 Mas esses relatos também podem servir como ponto de partida para que professoras e professores, juntos e no seu Sindicato, construam coletivamente alternativas que assegurem condições dignas de trabalho para toda a categoria.

O Sinpro Itajaí e Região está atento e trabalha diuturnamente para buscar a valorização e o respeito que o trabalho docente merece durante o isolamento social e depois dele. Fique em casa! Preserve você, sua saúde e aqueles que você ama!

Diretoria do Sinpro Itajaí e Região