O direito de viver o meu ócio

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Numa recente leitura que fiz do jornal Extra Classe do Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul, uma matéria do colega jornalista Clóvis Victória chamou minha atenção e me fez parar alguns minutos a mais em frente á tela e ler com calma e atenção as informações que ele trazia.

 

O texto, intitulado “Pelo direito ao ócio”, traz uma reflexão sobre o excesso de trabalho que os educadores fazem fora do tempo que estão em sala de aula e a inserção das novas tecnologias neste cotidiano de provas, redações, correções, preparações e ainda, as burocracias.

Na reportagem, o jornalista descreve uma educadora, como eu, como você que se dedica ao seu trabalho mas começa a se ver diante de uma nova realidade que precisa ser encarada com seriedade pelos próprios colegas professores e também pela legislação trabalhista: os educadores agora também fazem o trabalho das secretarias. Não bastando todos os ofícios, o mercado adere a tecnologias que, ao invés de agilizar o trabalho, sacrificam o tempo livre, o tempo do estudo, o tempo da pesquisa, o tempo de não fazer nada.

Acredito que, na prática, esta evolução digital, que deveria trazer ou possibilitar um maior tempo livre para lazer e cultura, faz com que fiquemos altamente conectados preocupados em atualizar blogs, escrever para sites, sermos rápidos e efetivos no lançamento das notas virtuais. Sem falar em toda a compostura necessária para ter sua página pessoal numa rede social. Uma colega, dia desses, confessou-me que foi questionada pela sua coordenadora, pois em sua página pessoal havia um foto em que estava numa mesa de bar com amigos e apareciam copos de cerveja, poderia não pegar bem para escola. Longe de achar absurdo ou não, o que me preocupada é essa doideira que cria na cabeça da gente, pois a colega ficou constrangida, indignada, cabreira e relutante.

Exemplos de excesso de trabalho, de falta de privacidade e tempo livre se espalham pelas mais distintas profissões. Penso que é necessário mais estudos por parte da legislação trabalhista, governos e movimentos de trabalhadores para refletirmos sobre os efeitos psicossociais desse aumento do trabalho docente. Segunda a professora Jaqueline Tittoni, do Instituto de Psicologia da UFRGS, para o Jornal Extra Classe, as promessas de que a tecnologia iria ampliar o tempo livre das pessoas não se cumpriram. “Houve uma fragilização do limite entre a vida do trabalho e a vida de casa. O que aconteceu é que as pessoas passaram a trabalhar mais e o desemprego aumentou”, diz Jaqueline.

Queremos tecnologia, queremos mostrar nosso bom trabalho, queremos informações e queremos avanços. Mas queremos de maneira decente, sem sobrecarga, com respeito, dignidade e tempo livre para viver o meu ócio, o meu tempo solto, o meu tempo de agora. Sem culpas e sem pressões.

 

                                                                                                                                                          Por Ana Lúcia da Silva – jornalista e educadora

 

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