Perfil “Escola Sem Partido” no Twitter pode ter incitado violência contra professores

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Ao criticar decisão do STF sobre “ideologia de gênero”, perfil @escolasempartid no Twitter, posta mensagem em que sugere cuidado aos professores, pois os pais podem “querer fazer justiça com as próprias mãos”

O perfil @escolasempartid do Twitter, que defende o projeto “Escola Sem Partido”, publicou uma mensagem em sua linha do tempo do Twitter, na qual “conclui” que os pais podem querer “fazer justiça com as próprias mãos” diante de decisão do STF de considerar inconstitucional uma lei municipal sobre “ideologia de Gênero”

No dia 24 de abril passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou uma ação do ex-Procurador-Geral da república, quando no exercício do cargo (2017), contra a Lei Municipal 1.516/2015 de Novo Gama, em Goiás que, dentre outras providências, proíbe material com informações de ideologia de gênero nas escolas municipais da cidade. A decisão do STF foi unânime em considerar a referida lei inconstitucional.

A decisão foi polêmica e reativou uma das principais polarizações da política brasileira, embora não possa ser considerada uma surpresa, uma vez que alguns ministro já vinham decidindo contra normas similares, como por exemplo no caso de Londrina e Foz do Iguaçu. O que levou a um acirramento de ânimos entre os defensores da proposta como é o caso do movimento escola sem partido.

O Perfil “Escola Sem Partido” no Twitter, que tem mais de 115 mil seguidores postou em sua linha do tempo uma mensagem que tem sido interpretada como uma incitação à violência de pais contra professores. A mensagem do perfil diz:

“Ao declarar a inconstitucionalidade de leis q proíbem ideologia de gênero no ensino fundamental, STF pode acabar levando pais a fazer justiça c/as próprias mãos p/defender a integridade psíquica e moral dos seus filhos e o direito sagrado de educá-los. Professores que se cuidem”.

Tweett do perfil @escolasempartd sobre a decisão do STF

Em resposta às manifestações, diversos internautas tem criticado o perfil, que respondeu na sua própria linha do tempo dizendo:

“Esse tweet está sendo criminosamente distorcido por canalhas, inimigos do ESP, como se estivéssemos incitando a violência contra professores, quando a verdade é que apenas antevimos uma possível consequência da decisão do STF.”

Resposta do perfil @escolasempartd na sua linha do tempo

Para Adércia Hostin, Diretora da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (CONTEE) e Presidente do Sindicato dos Professores de Itajaí e Região (SINPRO), esse posicionamento mostra uma séria e perigosa contradição que existe num movimento que se autoproclama defensor da liberdade e contra a doutrinação. Para a professora “Eles desconsideram a laicidade e o respeito às culturas, religiões, crenças e individualidades”, mostraram-se com uma postura de” justiceiros da retórica retrógrada, vil e sexista” .

Para o Professor Heleno Manoel Gomes Araújo Filho, Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) as declarações do perfil são “criminosas e ameaçadoras”. O professor não se mostrou intimidado, afirmando que a entidade não vai recuar do que eles consideram uma vitória dos profissionais da educação. “(…) vamos processar todas as pessoas que atuarem contra os/as profissionais da educação” declarou

São muitas as batalhas enfrentadas pelos/as trabalhadores/as em educação, além de lutar para presentar a vida nesta pandemia do coronavírus, temos que enfrentar um governo federal que nega a vida, nega as alterações ambientais e que quer controlar a liberdade de ensinar e aprender, isto abre brechas para declarações criminosas e ameaçadoras como essa

Heleno Manoel Gomes Araújo Filho, Presidente da CNTE

O Professor Carlos Alberto Marques, Presidente do Sindicato dos Professores das instituições Federais de Ensino de Santa Catarina (AUFSC-Sindical) e membro do Observatório do Conhecimento, lamenta que o país tenha chegado a esse nível de polarização e incompreensões com as diferenças, a ponto de se realizar tentativas de impor as ideias pela força.

O Professor, que também atua nos cursos de formação de professores e na pós-graduação, contextualiza esse movimento para além da bandeira “Escola sem Partido”, encontrando uma unidade entre aqueles que defendem a Ditadura Militar e semeiam o ódio em diversas frentes. Mesmo assim, sua mensagem é de esperança, em defesa da razão e da democracia.

Esse tipo de declaração somente mostra o quanto intransigentes e antidemocráticos eles são. Mostra que estão dispostos a tudo, desconhecem as leis e o funcionamento do país. É um convite ao arbítrio e ao estado de exceção, ao AI-5, por exemplo. Eles estão também nos movimentos que semeiam o ódio, pedem a intervenção militar. Simplificam as coisas de tal modo de forma que o público em geral não buscam as razões para as conclusões a suprema corte. Mas o país vai superar isso, vai vencer a razão contra o ódio e a democracia contra o arbítrio, que essa pessoas defendem.

Carlos Alberto Marques, Professor da UFSC, Presidente da APUFSC-Sindical

Fonte: Tribuna Universitária