Seminário internacional do IELA começa dia 23 de abril na UFSC
Por Elaine Tavares – jornalista
No mais das vezes, no senso comum, quando se pensa o Caribe, imaginam-se cruzeiros, ilhas paradisíacas, drinques exóticos.
Poucos são aqueles que relacionam essa parte do mundo com revolução, luta popular, libertação. Pois o Caribe é tudo isso. Primeira região vista pelos invasores em 1492, as ilhas do Caribe foram espaço de colonização, da ascensão do açúcar, reino dos piratas e também berço de revoluções importantíssimas como a do Haiti, onde os negros escravos realizaram a façanha de serem os primeiros a formar uma nação livre naquele espaço geográfico. Depois, bem mais tarde, foi a vez de Cuba, com a inovadora revolução de 1959, que trouxe para a América Latina a possibilidade do socialismo. Também é no Caribe que estão os paraísos fiscais para onde escorre o dinheiro da elite latino-americana e dos ladrões de casaca. Hoje, podemos ouvir falar do Caribe quase todos os dias, já que o Brasil se presta à criticada missão de comandar a ocupação militar no Haiti há anos. Assim que essa região está muito mais próxima de nós do que imaginamos. E é por isso que o Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA/UFSC) fez do Caribe o seu tema das Jornadas Bolivarianas deste ano.
Durante três dias inteiros deste seminário internacional, que acontece há oito anos na UFSC, desfilarão pelas mesas de conferência os temas mais candentes relacionados a essa parte do planeta que, apesar de tantas colonizações diferentes, e tantas línguas, faz parte da grande Abya Yala, a terra do esplendor conhecida também como “As Três Américas”.
A região do Caribe é um espaço localizado no lado leste da América Central e unifica, dentro do Mar do Caribe, uma série de pequenas ilhas/países também conhecidas como Antilhas. São elas: Antígua e Barbuda, Aruba, Bahamas, Barbados, Cuba, Dominica, Granada, Guadelupe, Haiti, Ilhas Caimãs, Ilhas Turcas e Caicos, Ilhas Virgens, Jamaica, Martinica, Porto Rico, República Dominicana, Saint Barthélemy, Santa Lúcia, São Cristóvão e Neves, São Vicente e Granadinas, Trinidad e Tobago. Vivem ali mais de 14 milhões de pessoas.
A Bacia do Caribe também é de interesse estratégico no que diz respeito a rotas comerciais, uma vez que cerca de metade da carga exterior dos EUA e as importações de petróleo bruto circulam através das vias navegáveis deste pequeno espaço de mar e ilhas. Nos anos 70 todos estes estados insulares observaram que, diante do assédio dos países centrais, era mais do que necessário empreender uma união. Foi quando nasceu o Caricom, Mercado Comum e Comunidade do Caribe, visando entrar na lógica dos blocos econômicos. Naqueles dias Cuba não podia ser admitida, vindo a integrar o Caricom só em 1998, e ainda como observadora.
Como o Caribe é uma região bastante desfocada na realidade dos brasileiros, também há poucas informações sobre as relações comerciais que se estabelecem entre o bloco do Caricom e o Brasil. Ainda assim, sabe-se que de tudo o que foi importado desta região, o maior fluxo vem da ilha de Trinidad Tobago (98%, segundo estudos de Débora Barros Leal Farias – Rev. Bras. Polít. Int. 43 (1): 43-68 [2000]), basicamente derivados do petróleo e gás natural. O Brasil tem embaixadas em apenas seis dos países do Caribe e mantém relações com as Ilhas Caimãs, onde existem vários escritórios de negócios tocados por brasileiros.
Com o advento da ALBA ( Aliança Bolivariana para os Povos da América Latina), em 2004, impulsionada pelo presidente venezuelano Hugo Chávez, novas relações começaram a se formar no âmbito do Caribe, dentro de uma perspectiva mais equânime e isso também deu outra coloração à discussão sobre os problemas da região do Caribe. Não mais a lógica colonial imposta pelos Estados Unidos, disposto a manter essa região sob seu domínio e em estado de dependência. A ALBA inaugura outra relação no campo da cooperação energética, cultural e econômica.
Em função de todas estas questões, os pesquisadores do IELA observaram que a região do Caribe deveria receber mais atenção da comunidade científica. E, é justamente a isso que o debate das Jornadas Bolivarianas se propõe. O IELA traz a renomada professora Digna Castañeda, responsável pela Cátedra do Caribe na Universidade de Habana/Cuba; o professor Norman Girvan, jamaicano radicado em Trinidad y Tobago, que têm vários livros escritos sobre o Caribe; Carlos Martínez, da Universidade Nacional da Colômbia, também de larga experiência nos estudos caribenhos e Maria Ceci Misozcky, da UFRGS, que tem realizado um estudo sistemático no Haiti há vários anos. Essa diversidade de olhares montará um painel revelador dos dramas, desafios e sucessos da gente caribenha.
As jornadas ainda lançam os livros: “Em luta pela terra sem mal: a saga Guarani contra a escravidão na Bolívia”, de Juliana dal Piva, o “Anuário Educativo Brasileiro”, organizado por Nildo Ouriques e Guadelupe Terezinha Bertussi, e “Em Busca da Utopia: a caminhada da reportagem no Brasil, dos anos 50 aos anos 90”, da jornalista Elaine Tavares. Ainda haverá apresentação de trabalhos e uma exposição da artista plástica Diana Roman Durante.
As atividades acontecem de 23 a 25 de abril de 2012, no Auditório da Reitoria da UFSC, começando no dia 23 às 18h30min.
ORNADAS BOLIVARIANAS 8a. Edição . 2012
23 DE ABRIL DE 2012
Noite: Auditório da Reitoria da UFSC
18:30 – Abertura oficial das VIII Jornadas Bolivarianas
19:00 – Conferência de abertura: O Caribe, região estratégica do imperialismo Digna Castañeda Presidenta da Cátedra do Caribe
Fonte e infográfico: Site da Revista Isto É. Para ter acesso a matéria completa clique em:
http://www.istoe.com.br/reportagens/196908_SINAL+AMARELO+PARA+AS+UNIVERSIDADES+PARTICULARES
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