A crise do capitalismo, que afeta especialmente países da Europa e os Estados Unidos desde 2008 e vem se aprofundando desde 2010, foi o tema do primeiro dia de seminários durante o 11° Congresso Nacional da CUT, realizado em São Paulo.
O Seminário Internacional “Os desafios dos trabalhadores e das trabalhadoras no enfrentamento da crise”, se transformou na reafirmação dos laços de solidariedade entre os povos na luta contra a redução do Estado e a retirada de direitos sociais, medidas que acabam importando a crise que afunda as economias dos países capitalistas centrais.
Na mesa, estudiosos e lideranças internacionais: Victor Baez, secretário geral da Confederação Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas (CSA); Vladimir Safatle, filósofo, escritor e professor doutor da USP; João Felício, secretário de Relações Internacionais da CUT; Roland Scheneider, assessor político senior da Trade Union Advisory Commitee (TUAC); Mohammed Blaidi, representando a Federação dos Novos Sindicatos da Palestina e Raffaelle Boninni , representante da Confederação Italiana Sindicatos Trabalhadores (CISL).
Dentre todas as falas, a participação do filósofo, colunista da Carta Capital, escritor e professor da USP Vladimir Safatle, sobre as consequências da crise para a classe trabalhadora e as estratégias de enfrentamento para garantir manutenção das conquistas e superar a crise, foi a que mais representou o anseio da classe trabalhadora.
“Ele foi muito aplaudido quando sugeriu saídas para a crise, como deveria ser cobrado imposto no Brasil, com taxas diferentes de acordo com classe / salário, defesa dos 10% do PIB para Educação – incluindo uma crítica contundente à fala do Ministro Mantega, que afirmou que esse percentual investido na educação vai quebrar a economia do país” destaca a professora Roberta Peinador, dirigente no Sinpro e delegada no 11º CONCUT .
Safatle defende que a saída para crise deve reunir medidas em defesa do emprego, salário e direitos, e que passa também pela taxação das grandes fortunas, das transações financeiras e dos ganhos das multinacionais, visando a mudança da atual estrutura fiscal regressiva no país, onde os pobres são mais taxados do que os ricos.
“O Estado precisa ter coragem de taxar aqueles que ganham mais. Se tiver que acirrar os conflitos de classe, que assim seja. Isso nunca ocorreu na América Latina. Passamos por séculos sem que algum governo colocasse esta questão na agenda prioritária e isso tem que acabar”, defendeu o filósofo.
Democracia real
O professor Vladimir Safatle alerta ainda para o que chama de “esgotamento do modelo”. Não apenas do modelo econômico, mas também social e político. Para o estudioso, a crise econômica exige como resposta a democracia real. Enquanto não houver um sistema político que dê condições para a participação direta das classes mais vulneráveis, pode se dizer que não haverá remédio efetivo para esta problemática. “Por isso, creio que esta é uma oportunidade para colocarmos em prática a agenda da democracia real, igualitarismo radical e universalismo. Defendemos uma estrutura política com grande participação popular que permita realizar os princípios básicos da democracia, que atenda a população, a quem paga, sem decidir, pelos rumos do desenvolvimento” destaca.
Na avaliação de Safatle, está havendo um esgotamento de um modelo marcado pelo endividamento das famílias, uma vez que o arrocho salarial vem corroendo o poder de compra dos trabalhadores. “Se o estado brasileiro fosse capaz de disponibilizar à sua população uma educação e uma saúde pública de qualidade sobraria mais dinheiro para as famílias e, consequentemente, haveria uma melhora na economia. A falta de investimento nestes setores é um bloqueio para o desenvolvimento nacional. É complicado quando você ouve do ministro da Fazenda que aumentar para 10% do PIB o investimento na educação vai quebrar a economia. Só alguém que não tem consciência dos nossos problemas e gargalos pode afirmar isso.”
Com informações de Wiliam Pedreira e Leonardo Severo – CUT
Foto: Roberta Peinador
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