Mulheres das histórias, mulheres que fazem a História

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Muitos são os fatos e as datas — que remontam, sem controvérsias, ao menos a 1909. — que teriam dado origem ao dia 8 de março como Dia Internacional da Mulher. O certo é que a ONU (Organização das Nações Unidas) o oficializou em 1975.

Talvez seja mais apropriado dizer que, em 1975, a ONU o eternizou, e não que o oficializou, pois que a data alcançara o panteão da história antes mesmo desse ato formal, encontrando-se no mesmo patamar que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, e que o Dia Internacional do Trabalho, 1º de maio, que remonta ao final do século XIX, tendo sido oficializado (eternizado), no Brasil, em 1924.

Dentre as centenas de belíssimas e justíssimas homenagens às mulheres que ganham o mundo em seu dia internacional, sobreleva-se a da Contee, com o título “LUGAR DE MULHER É…MUDANDO O MUNDO!”, relançada ao dia 1º de março corrente. Assim é por sua dimensão e por conseguir encerrar em uma frase o real significado social e político das mulheres.

Regularmente, com toda a justiça, ao dia 8 de março são reverenciadas algumas das incontáveis mulheres que se notabilizaram como figuras exponenciais, na árdua luta pela igualdade de direitos em todas as dimensões da vida humana e pela justiça social, sem a qual a vida humana jamais será plena.

Sem prejuízo dessas inquestionáveis reverências, seria oportuno que se estendessem àquelas que foram e são igualmente baluartes nesse eterno tecer da vida, mas que, pelas circunstâncias de seu tempo, de seu meio e das milenares injustiças, ficaram no anonimato.

Valentes mulheres que, apesar do anonimato, marcaram e marcam, com suor e sangue, as páginas da história de seu tempo e que são representadas por personagens de imorredouras obras poéticas e literárias, em total simbiose entre a arte e a vida.

A título de ilustração, sugere-se que se reverenciem, com igual fervor, as vítimas do tráfico negreiro, magistral e indelevelmente retratadas pela sublime sensibilidade do poeta Castro Alves, em seu monumental poema “Navio negreiro”, de 1869, nos seguintes termos:

São mulheres desgraçadas
Como Agar o foi também,
Que sedentas, alquebradas,
De longe… bem longe vêm…
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N’alma — lágrimas e fel.
Como Agar sofrendo tanto
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael…”

A desventurada personagem de “A letra escarlate” — obra de Nathaniel Hawthorne, de 1850, que Fernando Pessoa considerou o mais célebre romance norte-americano —, a quem a hipócrita comunidade em que vivia impôs a condição de bordar em sua blusa a letra “A”, de adúltera.

A inesquecível Pélegué Nilovna, do incomparável livro “A mãe (Matka), de Máximo Gorki, de 1907.

A indigente retirante Sinhá Vitória, do tocante e inebriante livro de Graciliano Ramos, “Vidas secas”, de 1938.

A desprezada personagem Juana, de “A pérola”, de John Steinbeck, de 1947, assim retratada: “Tinha falado em outros tempos, mas não há necessidade de falar quando isso não passa de um hábito”.

A valente e destemida Ana Paúcha, do instigante livro “Ana-não!”, de Agustin Gomes-Arcos, no qual a personagem, que perdera o marido e dois filhos na Guerra Civil Espanhola, de 1936 a 1939, teve o terceiro feito prisioneiro do franquismo e, ao sentir a morte se avizinhar, caminhou por metade da Espanha para o encontrar.

Vivas ao 8 de março!

Vivas às mulheres, de ontem, hoje e amanhã, ilustres e/ou anônimas, que fizeram, fazem e farão a diferença no espinhoso e longo processo de verdadeira humanização das sociedades.

Por José Geraldo de Santana Oliveira, consultor jurídico da Contee