Muito mais que um corpo cansado

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Professores

“A aluna tem o hábito de sentar em sua carteira abraçada aos joelhos apoiando os calcanhares no assento,” queixa-se no consultório um exasperado professor; sente-se desrespeitado, no que tem razão.

Vem desabafar com o médico, já que coordenador e diretor de sua escola, embora reconheçam a impropriedade da postura, não têm disposição para comprar esta briga. Hoje em dia, dependendo da escola e dependendo de certos pais, uma orientação de um professor intentando ensinar bons modos a seus pupilos, pode terminar nas barras de um tribunal e aí… tudo é possível. Afinal, as leis são pródigas em assegurar “direitos” e esquálidas em estipular deveres.

Há escolas particulares onde a relação mestre-pupilo foi deturpada para o binômio fornecedor-cliente; como “cliente tem sempre razão”, a falta de modos – trazida de casa – de um fedelho pode prevalecer sobre o que pretende ensinar o mestre. Lamentável.

O episódio acima não é um caso isolado; há um bom número de mestres que são habitués de consultórios médicos por somatizarem nas mais variadas formas de enfermidades as suas frustrações profissionais.

Antes de mais nada, se ressentem da falta do respeito que por direito, tradição e lógica lhes cabem.

É comum mestres apelarem para o apoio médico; necessitam ser escorados por fármacos para aguentar o tranco.

Aqueles que queiram, que precisem, amealhar um provento apenas razoável, têm que se esfalfar em três turnos diários de aulas, perfazendo sessenta horas trabalhadas na semana. Estafados, têm menor tolerância para lidar com a indisciplina.

É indigno o que convencionalmente vem se pagando para uma classe responsável pelo provimento de um bem vital para qualquer sociedade moderna: educação.

Esta adicional falta de reconhecimento por parte da sociedade, expressa através da baixa remuneração, só faz ampliar a frustração profissional.

Dias atrás a Presidente da República rotulou de “sangues azuis” membros de uma banda de funcionários, que embora privilegiados, ainda reclamam de seus salários. Simplesmente por terem curso superior acham pouco sete, oito mil reais de salário inicial; somas que nem em final de carreira um nobre mestre, igualmente com curso superior, sonha em perceber.

Professores recorrem ao médico, mas no fundo, o que está doente é o sistema.

 

Texto: Cezar Zilling , publicado no Jornal de Santa Catarina

 

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