Oito autores pensam – em artigos, ensaios e uma entrevista – as debilidades e alguma nobreza da universidade contemporânea, com o propósito de indagar e desvendar, principalmente, a história de cinco décadas da Universidade Federal de Santa Catarina.
Não limitam seus olhares apenas à UFSC, pois, ao focalizá-la, em suas análises, no livro “Crítica à razão acadêmica – Reflexão sobre a Universidade Contemporânea” os autores percorrem um caminho que traz matizes da história mais ampla da sociedade, do ambiente político, econômico e cultural em que os fatos sucederam e se inscrevem na atualidade da cidade, do Estado, do Brasil e do mundo.
Publicada pela Editora Insular, a obra reúne textos de estudiosos da UFSC, da Universidade de São Paulo (USP) e da Ohio State University, dos Estados Unidos. O lançamento está marcado para o dia 20 de outubro, às 19 horas, no saguão da Biblioteca Central Universitária (BU/UFSC).
A comemoração dos 50 anos de existência da universidade federal catarinense, completados em 2010, foi um dos acontecimentos que motivou os organizadores do livro, os professores Waldir Rampinelli e Nildo Ouriques, a buscarem outros autores com os quais dividem uma reflexão sobre a universidade. C onforme enfatiza Rampinelli, a celebração da vida de uma instituição precisa ir além de festas, condecorações e publicação de um livro de caráter oficial, atividades que marcaram os festejos do cinquentenário da UFSC. “Uma instituição pública tem a obrigação de avaliar sua história dentro de uma perspectiva crítica para poder avançar mais e melhor servir a sua população”, afirma o professor de História.
O livro, explicam os organizadores, “analisa e desvenda forças claras e ocultas que atuam na universidade contemporânea, algumas delas na UFSC, ao longo de seus 50 anos, como a oligarquia, a maçonaria e o mercado”. Rampinelli e Ouriques comentam, na apresentação da obra, que “nossa sociedade se ressente de intelectuais que tornem públicos e elucidem de maneira dialética e crítica os conflitos impostos pelo sistema capitalista.” Para os dois professores, é preciso “atualizar a importância do intelectual público que foi derrotado, para a desgraça de nossas universidades, pela aparição da medíocre figura do “acadêmico”, uma mistura de fetiche e impostura, que lamentavelmente marca o comportamento da maior parte da vida universitária.”
Lembram, ainda, que é necessário superar o medo que toma conta das pessoas, também nos campi universitários. Milton Santos, que eles citam, dizia: “A universidade é talvez a única instituição que pode sobreviver apenas se aceitar críticas, de dentro dela própria, de uma ou outra forma. Se a universidade pede aos seus participantes que se calem, ela está se condenando ao silêncio, isto é, à morte, pois seu destino é falar”. Além do mais, constatam os organizadores, “a erupção da crise capitalista mundial exige do professor universitário um novo tipo de comportamento, pois as respostas ‘acadêmicas’ aos grandes problemas da sociedade contemporânea são insuficientes.”
Os autores de “Crítica à razão acadêmica”, todos com atividade intelectual e militante na universidade, extraem, de suas análises, reflexões críticas sobre temas como o das fundações privadas, que minam o espaço público, e o das difíceis relações entre os trabalhadores em educação na universidade (técnicos e docentes). Percorrem também, nos textos, caminhos dos movimentos organizados, principalmente na UFSC, e denunciam os vícios dos processos eleitorais para a reitoria ao longo da história da instituição catarinense. Revelam, ainda, um tanto de servidão voluntária nas relações com o poder, bem como a submissão de “acadêmicos” às chamadas “revistas internacionais”, publicações a serviço de políticas científicas e econômicas “bem nacionais” de países europeus e dos Estados Unidos.
Além dos ensaios de Nildo Ouriques e Waldir Rampinelli, o livro traz textos de Célio Espíndola, Elaine Tavares, Fábio Lopes da Silva, Marli Auras (todos da UFSC) e Ciro Teixeira Correia (da USP). O único estrangeiro entre os autores é o estadunidense Frank Donoghue, que contribui com reflexões sobre as mudanças no mundo universitário dos Estados Unidos, “quase sempre objeto de adoração por parte da consciência ingênua que orienta a atividade universitária na periferia capitalista latino-americana e especialmente no Brasil”, como assinalam os organizadores. O livro inclui, ainda, uma entrevista com Maurício Tragtenberg, intelectual crítico que percebeu precocemente o surgimento de uma séria ameaça à vida universitária, à qual ele se refere como “delinquência acadêmica”.
“A atitude complacente que atualmente domina o campus e que marca a carreira da grande maioria dos professores é nociva para a construção de uma universidade vital para o Brasil e a América Latina”, escrevem Ouriques e Rampinelli. “Este livro pretende ser uma contribuição para que as possibilidades abertas pela crise global não se frustrem e possibilitem um despertar no campus universitário, este mesmo despertar cujas vozes vindas das ruas já se podem ouvir.”
Outras informações com Waldir Rampinelli ((8823-1373), Nildo Ouriques (9931-2930) e no IELA (3721- 4938 e 3721-6483).
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